Confira 2 Belíssimos Poemas de Drummond Sobre Fotografia

O Mês da Fotografia foi criado por mim, com o intuito de celebrar o Dia Mundial da Fotografia a ser comemorado dia 19 de Agosto. E para começar, publico 2 Poemas de Drummond Sobre Fotografia!

Portfólio de Bel Young

Diante das fotos de Evandro Teixeira

Carlos Drummond de Andrade

A pessoa, o lugar, o objeto
estão expostos e escondidos
ao mesmo tempo, sob a luz,
e dois olhos não são bastantes
para captar o que se oculta
no rápido florir de um gesto.

É preciso que a lente mágica
enriqueça a visão humana
e do real de cada coisa
um mais seco real extraia
para que penetremos fundo
no puro enigma das imagens.

Confira 3 Dicas De Como Fotografar Imagens Impossíveis De Ignorar!

Fotografia – é o codinome
da mais aguda percepção
que a nós mesmos nos vai mostrando,
e da evanescência de tudo
edifica uma permanência,
cristal do tempo no papel.

Das lutas de rua no Rio
em 68, que nos resta,
mais positivo, mais queimante
do que as fotos acusadoras,
tão vivas hoje como então,
a lembrar como exorcizar?

Marcas de enchente e de despejo,
o cadáver insepultável,
o colchão atirado ao vento,
a lodosa, podre favela,
o mendigo de Nova York,
a moça em flor no Jóquei Clube,

Garrincha e Nureyev, dança
de dois destinos, mães-de-santo
na praia-templo de Ipanema,
a dama estranha de Ouro Preto,
a dor da América Latina,
mitos não são, pois que são fotos.

Fotografia: arma de amor,
de justiça e conhecimento,
pelas sete partes do mundo,
viajas, surpreendes, testemunhas
a tormentosa vida do homem
e a esperança de brotar das cinzas.

Diante das fotos de Evandro Teixeira 
Carlos Drummond de Andrade

*O poema Diante das fotos de Evandro Teixeira foi escrito especialmente para o livro Fotojornalismo (1983), de Evandro Teixeira.

A poesia foi inspirada nas fotos clicadas pelo fotojornalista Evandro Teixeira (1935), sobre as marchas de 1968, tais como a Passeata dos cem mil, ocorrida em 26 de junho de 1968, na cidade do Rio de Janeiro.

O protesto, produto das manifestações de maio de 1968 ocorridas ao redor do mundo, também conhecida como a Revolução Jovem, que exigiam melhores condições de vida e liberdades civis – mundo afora -, e a queda da ditadura no Brasil, após o golpe militar de 1964.

Morada de Muitos Pássaros e Flores

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Continue lendo 2 Belíssimos Poemas de Drummond Sobre Fotografia e confira a tocante Poesia O que Alécio vê…

O que Alécio vê

Carlos Drummond de Andrade

A voz lhe disse (uma secreta voz):
– Vai, Alécio, ver.
Vê e reflete o visto, e todos captem
por seu olhar o sentimento das formas
que é o sentimento primeiro – e último – da vida.

E Alécio vai e vê
o natural das coisas e das gentes,
o dia, em sua novidade não sabida,
a inaugurar-se todas as manhãs,
o cão, o parque, o traço da passagem
das pessoas na rua, o idílio
jamais extinto sob as ideologias,
a graça umbilical do nu feminino,
conversas de café, imagens
de que a vida flui como o Sena ou o São Francisco
para depositar-se numa folha
sobre a pedra do cais
ou para sorrir nas telas clássicas de museu
que se sabem contempladas
pela tímida (ou arrogante) desinformação das visitas,
ou ainda
para dispersar-se e concentrar-se
no jogo eterno das crianças.

Ai, as crianças… Para elas,
há um mirante iluminado no olhar de Alécio
e sua objetiva.
(Mas a melhor objetiva não serão os olhos líricos de Alécio?)
Tudo se resume numa fonte
e nas três menininhas peladas que a contemplam,
soberba, risonha, puríssima foto-escultura de Alécio de Andrade,
hino matinal à criação
e a continuação do mundo em esperança.

O Poema O que Alécio vê faz uma homenagem ao Fotógrafo e Poeta carioca Alécio de Andrade (1938-2003), primeiro brasileiro a integrar a cooperativa fotográfica Magnum. A obra de Alécio era baseada em três pilares: o universo infantil, os retratos de personalidades do mundo das Artes e o cotidiano de Paris, capital francesa.

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Sobre Carlos Drummond de Andrade          

Carlos Drummond de Andrade, considerado o maior poeta brasileiro do século XX e um dos três mais importantes em Língua Portuguesa, iniciou sua carreira literária na década de 20, mais precisamente em 1922, quando publicou trabalhos nas revistas Todos e Ilustração Brasileira.

Em 1925, lançou sua própria publicação: A Revista. Em 1928, publicou o poema No meio do caminho, o qual se tornou um dos maiores escândalos literários do Brasil, pois representou uma ruptura estética.

Em 1930, lançou seu primeiro livro: Alguma Poesia (financiado pelo artista) e passou a também colaborar com o Estado de Minas, o Diário da Tarde. Em 1945, publicou o livro A rosa do Povo, considerado a sua obra-prima. A partir da década de 60, seus livros passaram a ser publicados em Portugal, EUA, Alemanha, Suécia, Argentina, etc.

Neste período, também participou dos programas Vozes da Cidade (Rádio Roquette Pinto) e do Cadeira de Balanço (Rádio Ministério da Educação). Em 1986, lançou Tempo, Vida, Poesia, seu último livro.

Serviço Público

Drummond ingressou no órgão estatal Minas Gerais (imprensa oficial) em 1929 e egressou deste em 1953. Cinco anos mais tarde, em 1934, tornou-se chefe de gabinete de Gustavo Capanema (seu amigo desde a adolescência e Ministro da Educação, do governo Getúlio Vargas), cargo do qual pediu exoneração, em 1945, por opor-se a ditadura Varguista.

No mesmo ano, entrou no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), no qual aposentou-se, em 1962, após 33 anos de serviço público.

Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade

Condecorações

Avesso a prêmios, recusou-se a ser indicado ao Prêmio Nobel de Literatura em 1967, laurel criado por Alfred Nobel (1833 – 1896), já que se negou a enviar a tradução da sua obra, para Arne Lundgren, seu tradutor para o sueco (língua oficial da Academia de Ciências, organizadora do Prêmio Nobel) e a receber o Prêmio Nacional Walmap de Literatura.

Não obstante tais fatos, foi galardoado com importantes láureas, dentre as quais, destaco: o Prêmio pelo Conjunto de Obra, da Sociedade Felipe d’Oliveira (1946) e o Prêmio de Poesia, da Associação Paulista de Críticos Literários (1974).

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Devido a sua proeminência, Drummond recebeu várias homenagens, dentre as quais, destaco: a confecção da sua face nas notas de cinquenta cruzados novos (em circulação de 1988 a 1990) e a construção Memorial Carlos Drummond de Andrade em Itabira, com projeto arquitetônico assinado por Oscar Niemeyer, em Itabira, sua cidade natal.

Portfólio de Bel Young

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